yemanja.

rádio
2 min readApr 7, 2024

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sinto saudades da praia. do vai e vem das ondas, do cheiro salgado da agua cristalina que nem sempre límpida. sinto saudades das barracas verdes e amarelas, esfumaçantes com o cheiro de milho amanteigado, “no prato ou na espiga, mocinha?”. pago com uma nota de dez ja desgastada pelos anos de uso e saboreio aquilo como se fosse a primeira vez. como se os meus pes 33 tocassem a orla da praia, o estranhamento incomum dos grãos de areia dentre os dedos. como se os baldes de areia ainda formassem um castelo perfeito proximo a mesa armada com guarda sol. como se o pequeno corpo queimado nos ombros e enrolado na coberta, exausto pelo divertimento do dia, fosse repleto de primeiras experiencias antes de cair em um sono leve.

mas os pes 33, hoje, ja tinham o dobro de tamanho. o sabor do milho ainda era palpável e os baldes de areia descansavam em algum lugar ao fundo do baú, inutilizáveis com o tempo. “vou passar no débito”. já não tenho mais medo de errar a senha do cartão. a aproximação não só vem da li, mas da infância que ha muitas ondas ficou pra trás.

yemanja levou consigo, durante muitos anos de visitas, varias versões de mim mesma. o mar não e igual ao que eu entrei em vasto tempo. nem eu sou. meu lugar de paz é oscilante, sinto falta mas infelizmente aprendi a conviver com sua ausência.

minha criança interior anseia pelos fins de ano, por quando a alma jovem que habita aqui reencontre a mãe sábia que mora la.

posso ouvir seus sussurros em conchas que carrego distantemente comigo, mas seu cantar a beira-mar ainda é inconfundível. seus beijos de brisa e seu gosto atípico. me sinto acariciada sempre que estou abaixo da superfície. te encontro, te sinto e te vivo. ja abro os olhos sem tanta irritação; não corro mais aos prantos para a mamãe porque seu ardor me aflinge. gosto de como sempre se sobrepõe sobre mim. gosto do silencio quando sua correnteza fria me abraça em um sussuro. gosto dos presentes que me deixa no raso, mesmo que voce sempre seja tão profunda. te coleciono em potes, observo como é resistente mesmo com o passar dos anos. espero que me perdoe pelo aprisionamento tao infantil, como uma criança tola que colhe uma flor na esperança que seu egoísmo a cultive.

você me viu ser uma dessas criancas tolas, acompanhou desde meu primeiro “olá” até o mais recente dos adeus. te pertenço, você sabe como sou em despedidas. acrescento mais uma gota salgada a voce sempre que retorno para casa.

sou uma criança tola em um corpo

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que se molda a cada vez que te encontra. obrigada por ser o mais imbatível dos exemplos, nao julgando sua vastidão presa em meus pequenos potes. você e eu sabemos que um dia nos unificaremos novamente. você com sua extensão, e eu, com minha regente.

  • silêncios e feixes de luz. aonde a claridade não me encontra.

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